Caros leitores,
Como a Carina está trabalhando (na International House, onde o “head of the teacher trainers” disse em sala de aula que o “second conditional” é formado por “two phrases”... para professor de inglês é a mesma coisa que dizer que Jesus nasceu em Belém do Pará) e eu não, resolvi escrever desta vez. Já cozinhei e limpei o apartamento, ou seja, já executei minhas funções de “househusband”. Agora só me resta escrever e esperar minha mulher voltar do trabalho.
Há uns três finais de semana passados fomos visitar um parque muito bonito aqui mesmo em Burnaby chamado “Deer Lake Park”. Confiram o slide show e vocês verão que beleza o lugar é. Passeamos ao redor do lago, visitamos o museu, assistimos a apresentações de dança e números circenses no centro cultural do parque... tudo de graça. Igualzinho ao Brasil, né?! Confesso que assim que cheguei ao parque perguntei para a Carina: “Amor, esse lugar te lembra qual lugar no Brasil?”. A resposta veio imediatamente: “Parece muito com Curitiba”. Realmente não tem como negar a semelhança... tudo público, lindo, limpo e de graça. Gostaria de aproveitar o ensejo e parabenizar o Governo de Curitiba e os Curitibanos. Confesso que é o único lugar do Brasil que eu moraria sem medo de ser feliz. Dizem que o Curitibano é fechado e intolerante. Bom, das duas vezes que estive em Curitiba não achei nada disso. Pelo contrário, achei o povo educado e orgulhoso. Infelizmente no Brasil muita gente confunde educação com esnobismo e orgulho com intolerância, sendo que, em verdade, no resto do Brasil se perde muito tempo jogando conversa fora e tolerando o intolerável. Não é a toa que nosso país virou uma Casa de Tolerância. Viva a intolerância Curitibana!!!
Passeando pelo parque, avistamos lindos e pacatos gansos. Enquanto filmávamos os bichinhos, uma criança asiática saiu correndo atrás deles com pedras na mão para acertar os pobres animais. Tais cenas, contudo, foram censuradas por minha mulher devido a meus comentários nada polidos. Contudo, vamos divagar. É sabido que nunca quis ter filhos e ainda não os quero. Por quê? Por várias razões: trauma de ver tantas crianças mal educadas, infantilizadas e mimadas no Brasil; somos todos produtos que alimentam a máquina capitalista; o mundo está passando por mudanças sérias; os recursos naturais estão se esgotando; a poluição causada por cada um de nós é cada vez maior; etc. Bom, ainda assim às vezes algum desavisado tenta me convencer que eu deveria ter filhos. As razões são as seguintes: “Você não vai perpetuar seus genes? Quem vai cuidar de você quando você ficar decrépito? Você e a Carina são tão bonitos que é um desperdício não reproduzir”. Vocês notaram o egoísmo de tais “razões”? Cada vez que ouço esses absurdos tenho menos vontade de ter filhos. Quando vejo um zigoto correndo atrás de animais indefesos para apedrejá-los a coisa desanda de vez. Sorte dele eu não ser um dos gansos, pois teria lhe arrancado o nariz com o bico. Bom, tudo isso para parabenizar os pais Canadenses. Gente, vocês não acreditam como as crianças genuinamente canadenses são educadas. E é fácil entender o porque: desde pequeninas elas dialogam com os pais. Não tem grito nem bronca. Não tem infantilização (bebezinho do papai... coisa mais linda da vida da mamãe...). Tem, isso sim, muito diálogo. Tem prosa de qualidade e imposição de limites por meio de palavras. É impressionante sentar ao lado de pais com seus filhos pequenos no metrô. É uma verdadeira aula de como educar um ser humano. Viva os pais Canadenses!!!
Mas se os Canadenses são tão bons pais, por que então não procriam mais? Por um motivo muito simples: eles pensam. Infelizmente nós do terceiro mundo (para com esse papo idiota e furado de “país em via de desenvolvimento”) não pensamos. E quanto mais pobres e miseráveis somos, menos raciocinamos. Não é a toa que o mundo virou o que virou. Basta pensar cinco minutos que tudo fica muito claro. Vivemos numa sociedade capitalista global e plutocrática. Ou seja, pouquíssimos detêm o poder e o capital. O resto todo é escravizado e vai ao cinema aos fins de semana para fugir da realidade (detalhe que os bancos e a indústria de entretenimento global se encontram nas mãos de uma mesma gente). Os povos mais esclarecidos já perceberam isso e reduziram a prole. Contudo, nós continuamos reproduzindo como coelhos e povoando a terra de “produtos baratos”. Muitos de nós viramos imigrantes e suprimos a carência de mão-de-obra das sociedades mais desenvolvidas e abastadas. Na maioria das vezes, somos mão de obra mais barata e somos liderados por Canadenses, Franceses, Americanos, etc. Conveniente para o porco capitalista, não? Veja só: somos muitos, ganhamos pouco e enriquecemos meia dúzia. O que poderia ser mais perfeito que isso? Amigos, a única “meia saída” é pararmos de procriar. Pelo menos até que a Terra volte a ser comandada pela razão, decência, moralidade e grandeza de espírito. Este dia está chegando, mas cabe a cada um de nós oferecer resistência usando a única coisa que nos diferencia dos demais animais: a razão.
Vejam vocês o quanto podemos refletir após um simples Domingo no parque. Desculpem o longo texto, mas quando temos tempo para pensar indagamos muito. Interessante notar que cada vez trabalhamos mais e indagamos menos. Será mera coincidência? Um forte abraço!
Victor